“Tá todo mundo mal”, já percebeu?

25/01/2017

Foto: browndresswithwhitedots.tumblr.com
Dia desses tava conversando com a minha amiga Marília. Nós nos conhecemos há mais ou menos cinco anos apenas pela internet. Marilia é como se fosse a minha irmãzinha mais nova, nós sabemos todos os sentimentos uma da outra porque a gente faz questão de compartilhar todos eles. A gente se conheceu no Twitter, trocávamos dms, depois trocamos mensagens no chat do facebook, trocamos mensagem de texto, whatsapp e atualmente a nossa diversão é trocar e-mails. Não mensagens, e-mails, textos gigantescos porque temos muito a dizer.

Em uma das nossas conversas a pauta era sobre os desequilíbrios emocionais que a grande maioria da juventude de hoje vivencia. Sim, não é só você, ou a sua amiga, ou você e ela. Eu passo por isso, a Mari também, a menina que eu dizia não gostar também, aquela que já foi minha amiga e não é mais também, a que conspira contra e várias das pessoas que vejo na rua, tenho a sensação que também sentem a mesma coisa. Começa com um desconforto, um descontentamento conosco, com a vida, com o temos, com o que não podemos ter agora. 

A gente se sente insatisfeito e incapaz de conseguir mais ao mesmo tempo. Se questiona para qual proposito estamos vivendo, se estamos agindo certo, porque obviamente queremos uma resposta positiva. Mas por quê?! Porque eu necessariamente tenho que ter nascido para tal coisa? Por que atualmente as pessoas depositam expectativas na gente, que muitas vezes nos obrigamos a cumprir sem ao menos nos questionar se realmente queremos fazer? Colocamos em risco nossa paz espiritual e nossa sanidade até aceitando as severas cobranças do sistema, dos outros e de nós mesmos. Eu tenho que agir de maneira X, porque quero uma resposta Y. Não importa o quanto tenha que me maltratar, eu preciso dessa resposta Y, pois a resposta Z não me serve, porque a sociedade disse que não serve. Temos depressão, transtornos de ansiedade, insônia, síndrome do pânico e um bocado de outras coisas – em segredo, muitas vezes –que ganhamos de brinde desse sistema caótico que gira em torno da nossa juventude. Portanto, não se trata de “modinha” e nem “romantização”, é necessário falar disso.  

Marilia e eu notamos que a nossa geração recebeu uma carga intensa de expectativa e responsabilidade com uma idade que ainda não cabia a nós. Faculdade aos 16 quiçá aos 18, o primeiro emprego tem que ser o quanto antes, reduz a maioridade penal, porque o adolescente tem noção. Não o adolescente não tem noção, nem mesmo eu no auge dos meus 21 tenho noção do que quero de fato pra minha vida. Tenho vontade, tenho sonhos, tenho perspectiva, mas tudo muda e tudo é incerto, porque não me deixaram escolher e agora que eu quero, não tenho tanta segurança assim. Mas pera, eu não posso ser incerteza, as pessoas esperam uma resposta e o mundo gira rápido demais, eu preciso acompanhar, ou outra pessoa mais atenta vai passar na minha frente.

Como no vestibular, entramos na sala de aula e olhamos para todas aquelas pessoas como se elas fossem nossas concorrentes na grande esteira da vida acadêmica. Primeiro, nem sabemos se de fato algum deles está tentando cursar a mesma faculdade que a gente. E quando descobrimos, temos certeza, ‘nosso concorrente’. Não paramos para pensar que na verdade, é nosso possível colega de profissão. Viu a diferença dos pensamentos? A gente se acostuma com a sobrecarga e acaba normalizando e aceitando muita coisa que não, não devemos aceitar.

Não, eu não vou fingir que não estou afim de você só pra aumentar seu interesse e elevar meu ego, isso é perda de tempo e de oportunidade de sentir. Aquela ridícula cultura do desinteresse que essa geração insiste em consolidar. Ou então, a teoria do não amor, “quebrei a cara, amor é mito”. Não, gente, tá tudo errado. Claramente tá tudo errado e mais errado ainda é a gente achar que está errado e reproduzir o erro. Existem muitas outras coisas que a gente olha, acha errado e não fala, porque já disseram que é daquele jeito que se faz. Precisamos falar disso. O que nos instiga? Nos incomoda? O que tá ao contrário?


Normalmente eu venho aqui para depositar respostas, mas hoje não, hoje eu vim plantar questionamentos em vocês sobre vocês mesmos, não sobre os outros. Porque se fosse para observar os outros, do jeito que estamos, só iriamos criticá-los. Ou seja, não pense nos outros, pense em você! Hoje é o dia que pensar em si é a coisa mais importante a fazer. “Como eu posso não reproduzir esses vícios no qual fui ensinado?”. Você não pode mudar os outros, mas pode fazer algo por si. Imagine se cada pessoa que ler este texto procurar mudar um pouco a partir de agora. 

Um comentário:

  1. "A gente se sente insatisfeito e incapaz de conseguir mais ao mesmo tempo. Se questiona para qual proposito estamos vivendo" Marcos e eu estávamos no mesmo dilema esta segunda. estamos numa geração onde todos os sentimentos se resumem a frustração. Adquirimos muita responsabilidade com pouca idade e a pressão de ser/ter alguma coisa [vida profissional/mercado de trabalho] pressão dos pais, estudos, enfim, "n" situações. acabamos por não "viver". é a tal da sobrecarga psiquica kkk. excelente texto.

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