Ninguém, senão eu.

"Ninguém senão eu mesma fará por mim as coisas que precisam ser feitas.

Ninguém além de mim trabalhá pelos meus sonhos até a última gota de força.

Ninguém chegará em mim e fará ficar tudo bem. Só eu posso mudar a minha situação".

A primeira lição que aprendi o dia em que deixei a casa da minha mãe e decidi ir morar sozinha, foi que a partir dali ninguém mais faria as coisas por mim.

Passava das 21h quando acordei no meio da viagem. Eu senti uma dor no estômago que não parecia sintoma pra nem um dos remédios que eu tinha levado na viagem. Não pegava sinal de telefone, internet menos ainda, então eu resolvi ir dormir pra que a viagem terminasse mais rápido. Geralmente, quando eu fazia isso, minha mãe me acordava já com um copo de café em mãos e alguma outra coisa a mais pra comer. Só que dessa vez ela não tava ali, eu sabia que estava com fome e vi que se eu não fosse providenciar, correria o risco de ficar sem comer a vigem toda, pois tava tudo fechando.

Esse foi o meu primeiro impacto.

Minha mãe não estava ali comigo, agora eu teria que decidir tudo, teria que me virar pra tudo, teria não só que pensar em tudo, mas realizar se eu quisesse que acontecesse. Minha ficha não tinha caído na hora que eu embarquei.

Depois disso vieram outras coisas. Refeições sozinhas, programas de TV sozinha, não tinha companhia pra desbravar minha nova cidade e fazer coisas que eu gosto, fiquei doente sozinha… Em todos os momentos, mesmo que às vezes eu estivesse pela casa de alguém, era só eu ali. Eu comigo o tempo todo, 24h por dia, tendo que lidar com um espaço cósmico inteiro dentro de mim.

Levei um certo tempo pra me acostumar, mas esse processo me fez perceber quem é que estaria comigo em todos os momentos, mesmo quando nem minha mãe estivesse. Me mostrou quem era que eu teria que cuidar e quem eu deveria aprender a tratar com amor.

Eu reconheci a pessoa pra quem eu mais gostava de cozinhar, mesmo que eu não soubesse muito bem. Com quem eu mais amava assistir filmes e botar minhas ideias pra funcionar. Eu aprendi a me autoproteger e a sair na rua com mais segurança.

A solidão não é boa o tempo todo, mas a solitude é.